quarta-feira, 27 de junho de 2012


E. Souto Moura: Casa em Baião, 1990-1993





 1 de Junho de 2012







Morada: Vale da Cerdeira

Localidade: Baião

Cliente: Jorge Neto

Colaboradores: Francisco Vieira de Campos

Eng.º  Estruturas: José Manuel Cardoso Teixeira

Eng.º Electricidade: Laurindo da Silva Guimarães

Construtor: Rodrigues Cardoso e Sousa, Lda.

Área de construção: 120m2

Área do Terreno: 21000m2

Materiais:” betão, caixilharia francesa TECHNAL, telhas suíças da SIKA, roofmate americano da DOW, rufos e caleiras belgas da COMPAGNIE ROYALE ASTURIENNE DES MINES, peças sanitárias espanholas da ROCCA, torneiras italianas da MAMOLI portuguesa, candeeiros italianos.” 1.



“A casa do Baião é um dos projectos (…) da obra inicial de Souto Moura e uma das mais ilustrativas da influência do modernismo de Mies van der Rohe, que na obra deste arquitecto embate no orgânico, no vernacular, na impureza e por fim na matéria mutável. Por isso essa obra ganha um valor poético que avança com os efeitos do tempo.” 2.


1. “6 casa: houses”, Em Architéti nº 21, AnoV- Nov/Dez/Jan, (página 22)

                                                      2. “Eduardo Souto de Moura X Casa em Baiao”, em http://www.parqmag.com/?p=2249



“Recuperar uma ruína para casa de fim-de-semana com dimensões mínimas, foi o pedido do cliente. Consolidar a ruina como jardim fechado e fazer a casa ao lado foi a base do projecto.”3.



Características do contexto de intervenção e modo como o projecto lhes responde



            Este projecto apresenta aspectos de uma arquitectura moderna, tanto no seu programa como no seu relacionamento com a envolvente e com os elementos existentes no lugar. Serviu como resposta para uma casa de fim-de-semana para uma família, no qual a base do projecto era uma ruina existente no local.


Souto de Moura preocupou-se que esta casa se relacionasse com a natureza direccionando-a dessa forma para a paisagem, visto que esta se encontra na encosta do Rio Douro.       



Como esta ruina tinha uma presença simbólica muito forte no lugar, Eduardo Souto de Moura decidiu preserva-la projectando assim a casa ao lado da mesma seguindo o mesmo alinhamento no que diz respeito à sua organização em planta. Em alçado esta encontra-se mais baixa para não cortar o simbolismo da ruina na paisagem.




3. ANGELILLO, António; PAIS, Paulo; “Eduardo Souto Moura”; Lisboa: Editorial Blau Lda., 1996, (Edited by Luiz Trigueiros), (página de 150).

A ruína manteve-se assim inalterada, no que diz respeito à relação com a sua envolvente.

Vista Exterior da Casa

A casa é constituída por paredes de betão enterradas formando uma caixa com a cobertura envolvida em terra vegetal proveniente da escavação feita para a sua incorporação.

A fachada é o plano de excepção, e é constituída por um extenso plano de vidro, que, para além de criar o acesso à “caixa”, favorece a casa com uma óptima luz solar, pois este pano encontra-se orientado a Sul, e oferece uma panorâmica do interior da “caixa” sob o vale e o rio.

O plano da cobertura baseia-se no tema da “cobertura ajardinada”, que neste caso é a continuidade do terreno que serve de camuflagem. Esta solução construtiva também traz benefícios nas características térmicas pois permite à casa ter uma temperatura constante. O solo conserva a temperatura ajudando a aquecer ou a arrefecer o espaço interior de uma forma natural.

A fachada, que resulta da organização do espaço interior da casa, perde algum destaque perante o extenso muro de pedra, daí ser um plano mais recuado. Este muro é um elemento fundamental à leitura do projecto, pois é nele que se inserem os elementos construtivos, acabando assim por se tornar uma moldura natural do local.

Na zona frontal da fachada existe um terraço com algumas árvores em seu redor que oferecem algum conforto e protecção natural, protegendo a fachada da luz solar em excesso.

Estas ajudam a ocultar um pouco a fachada, retirando-lhe algum destaque. A casa foi pensada de forma a “esconder” a intervenção humana na sua implantação, razão pela qual a cobertura ser em terra vegetal.

 A intenção do projecto é a camuflagem da casa na natureza fazendo-a funcionar como uma “caverna” envidraçada que oferece um conforto interior visto que os compartimentos se encontram em contacto com o exterior.

            Assim verificamos que o antigo e o novo relacionam-se entre si e vivem em harmonia com a paisagem



Lógica funcional e espacial da planta

 A casa em Baião (1990-1993) serviu de modelo para Souto de Moura para a criação da Casa em Moledo (1991-1996), pois ambas têm programas semelhantes e foram construídas na mesma altura.

            A casa em Baião contém apenas um piso, constituindo uma planta rectangular numa envolvente bastante ampla. Os seus planos são disfarçados pela terra sobre a cobertura enquadrando-a assim no meio natural.

O plano frontal baseia-se no tema do vidro e do alumínio contrastando-o assim com o muro de blocos de pedra (granito – material abundante no norte do país) existente no terreno.

            Nesta planta podemos verificar que a casa é composta por elementos autónomos e desenvolve-se a partir da ruina e do muro existente, ambos de pedra. Este muro foi seccionado dando lugar a um plano de vidro, mas este não desapareceu do lugar, simplesmente foi rodado num angulo de 90º, ficando assim a fazer parte do interior da casa, dividindo o espaço comum do espaço privado.


Planta



Lógica funcional e espacial do corte

            No que diz respeito à materialidade, podemos verificar que os planos da casa são individuais perante a escolha dos materiais, a sua fachada tem um carácter transparente devido à fachada envidraçada, que por sua vez cria uma ligação do espaço interior com o exterior, o plano do fundo é composto por armários de madeira, os planos laterais vivem da presença da pedra, o plano do tecto é revestido por reboco e o seu pavimento único é composto por tijoleira cerâmica oferecendo uma uniformidade ao piso único da casa.

Neste corte podemos ainda observar a presença de clarabóias, elementos com essenciais neste projecto.
         


Corte



Aspectos do projecto mais próximos dos modelos canónicos do Movimento Moderno



Podemos afirmar que o projecto possuiu características do Movimento Moderno. Como anteriormente verificámos, este transmite a influência de Mies van der Rohe (um arquitecto inserido no âmbito do Movimento Moderno) na obra de Eduardo Souto de Moura.

Resumindo, toda a lógica funcional, os planos de vidro, o Reducionismo Formal obtido na “elementaridade geométrica das massas de construção e dos espaços, na depuração genérica da forma” (Ledoux) e o Reducionismo Construtivo com planta e fachada livres são típicos do modernismo na Arquitectura. Também o facto de se apresentar como uma obra discreta (por não se destacar no território onde está inserida) lhe confere a proximidade ao Movimento Moderno.



Aspectos do projecto que mais se distanciam dos modelos canónicos do Movimento Moderno


Talvez a presença da ruína e a sua inserção no projecto, seja o que mais distancia a casa dos modelos canónicos do Movimento Moderno, precisamente por não corresponder às “formas geométricas puras” dele características.

               Pormenor do interior da casa



·         Bibliografia










[Livro] Università della Svizzera Italiana, “Eduardo Souto de Moura, Temi di Progetti  - Themes for Projects”; USI/Skira; 3 i Cataloghi dell’Academia di architettura; 1998 (páginas 40, 90 a 93);

[Livro] ANGELILLO, António; PAIS, Paulo; “Eduardo Souto Moura”; Lisboa; 1996; Editorial Blau Lda., (páginas de 148 a 151), (Edited by Luiz Trigueiros);

 [Livro] ESPOSITO, António; LEONI, Giovanni; “Eduardo Souto de Moura”; GG, 2003, Milão, (página 132 a 135);

 [Livro] “Souto Moura - Ten Houses” (Author: Oscar Riera Ojeda)



[Revista] Architéti nº 21; “6 casa: houses”, (páginas 22 a 27) AnoV- Nov/Dez/Jan;

[Revista] “Arquitectos nº67” (página 13)
Trabalho de Síntese Final | UC Geometria



Painel 1


Painel 2


Painel 3


Painel 4


Painel 5


Painel 6